quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O que acontece com uma usina nuclear após seu fechamento?

O que acontece com uma usina nuclear após seu fechamento?


Ter, 14/Set/2010 00:00 Energia


Visitar o interior de uma usina nuclear inativa permite ir além do alerta contra a radioatividade criada por lobbies, ecologistas e a ciência, e nos coloca de frente para uma pergunta poucas vezes respondida: o que acontece realmente após seu fechamento?








Por Agência EFE
Do reator nuclear restam apenas algumas canalizações e um buraco de grandes dimensões
"Proibido beber, comer, fumar, urinar e defecar na zona controlada", diz o cartaz que dá as boas-vindas ao grupo de visitantes nos vestiários da usina de Chooz A, no noroeste da França.
Chooz A é um dos exemplos pioneiros de usinas que estão sendo totalmente desmontadas na Europa. Atualmente, há 145 reatores nucleares operando no continente e 74 fechados, dos quais 69 estão sendo desmontados, dois estão completamente desmantelados e três no estado que se conhece como fechamento seguro.

"O desmantelamento de uma usina nuclear é uma obra de grande envergadura que põe a toda prova a capacidade tecnológica de um país", disse à Agência Efe Carlos Pérez Estévez, diretor da Vandellòs I (Tarragona), a única usina espanhola que começou a ser desmontada.
"Você está entrando em área controlada"

Todos os trabalhadores se cobrem da cabeça aos pés para se proteger da radioatividade
Após seu fechamento em 1989 por causa de um incêndio - considerado o incidente nuclear mais grave ocorrido na Espanha -, o desmantelamento de Vandellòs I começou em 1990 sem data clara de finalização, já que somente em 2028 serão iniciados os trabalhos finais para desmontar o reator, após 25 anos em estado de latência.
No total, são necessárias mais de quatro décadas de desmantelamento para uma unidade construída em cinco anos.

De volta aos vestiários da Chooz A, vários homens conversam com naturalidade com seus companheiros de trabalho antes de atravessar a barreira que separa a "zona limpa" da restrita, uma cena que seria cotidiana se não fosse por estarem usando cuecas, pantufas de papel e uma valise laranja com o sistema de respiração de emergência.

Os celulares têm que ficar do lado de fora – são estritamente proibidos dentro das instalações –, assim como o resto dos objetos pessoais, inclusive os brincos, se forem grandes, já que "como não se pode cobri-los, se houver algum problema teríamos que fundi-los, mesmo que tenham sido de sua avó", explica o guia.

Do lado de dentro, é preciso se cobrir dos pés à cabeça com uma camiseta, um par de meias soquetes, luvas, um calçado especial similar a uma mistura entre sandálias esportivas e tamancos e um macacão de corpo inteiro. Tudo muito branco, salvo o capacete amarelo-limão.
Apesar de tal desdobramento, Pérez Estévez assegura que, na realidade, "o principal risco que existe em um desmantelamento são os acidentes, já que se trabalha com materiais a alturas consideráveis e se realizam demolições".

Escombros e resíduos radioativos
Uma vez abertas as portas da cabine de despressurização - o interior da central é isolado a vácuo para evitar que a radioatividade saia em caso de escapamento -, o grupo de visitantes caminha por um túnel que penetra nas instalações, separadas da superfície por uma rocha cuja grossura oscila entre 20 e 60 metros.
A primeira sala abriga a profunda piscina na qual se armazenava o combustível, onde vários trabalhadores cortam peças metálicas em pequenos pedaços que depois serão classificados para seu tratamento.

O visitante tenta encontrar sem sucesso provas visíveis da radiatividade, mas não há nenhum rastro. Nem do reator, pois onde antes se encontrava o poderoso núcleo da usina, agora não resta mais que um grande orifício retangular.

Até o momento, em Chooz A foram geradas 985.400 toneladas de escombros, das quais 81% não tinham nenhum tipo de radioatividade, enquanto 19% restante (cerca de 185.400 toneladas) precisaram de um tratamento ou armazenamento especial.
Destas últimas, 300 toneladas correspondem a um nível alto de radioatividade e de "longa duração" (cuja radioatividade perdura por mais de 300 anos), ou seja, precisam de um "depósito geológico profundo" permanente.

O caso de Vandellòs I é diferente. Embora os resíduos de alta radioatividade tenham sido transferidos para a França no início da desconstrução, boa parte dos de nível médio e baixo permanecem na usina em estado de latência, com o que se procura aproveitar a diminuição natural de sua radioatividade.

Mais de US$ 270 milhões serão necessários para realizar a fase final da desmontagem (desmantelamento da gaveta do reator e suas estruturas internas), que se somarão aos cerca de US$ 10 milhões que custou o desmantelamento do Nível 2 e aos quase US$ 4 milhões anuais que serão destinados para manter a latência durante os próximos anos.

Os planos para Chooz A e Vandellòs I preveem a reutilização dos terrenos para uso industrial.
Um responsável da Chooz A destaca a importância da reciclagem dos materiais da usina nuclear, que se submetem a limpezas exaustivas para eliminar o menor rastro de radioatividade e outra contaminação deles, embora acrescente, brincando, que não resta outra coisa "a fazer com eles do que facas e garfos".

Fonte: Agência EFE

Nenhum comentário:

Postar um comentário